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Comportamento, ciência, tecnologia, direito, política, religião, cinema e televisão, alguma controvérsia, algum bom senso, e um pouquinho de besteira, para dar um gostinho...

4 de fev. de 2024

Virar adulto

 E que ponto da vida viramos "adultos"? Com 17 anos "saí de casa" (ainda BEM sustentado pelos pais) para "viver sozinho". Falhei miseravelmente e voltei, agora com 19. Novamente na dependência completa, até os 24, quando alcancei a independência financeira. Aos 26 conheci o amor da minha vida. Nossa vida sempre foi estável, financeiramente falando.

Aos 34 anos voltei a estudar, impulsionado por um desejo de melhorar. Aos 37 me formei e aos 38 virei pai pela primeira vez. E aí a chave virou. Das minhas decisões não dependiam apenas eu e a esposa. Tinha uma menininha também, indefesa e dependente. Qual o motivo de ter demorado tanto para vir a tal da "maturidade"?

Nunca mais esqueci a chave, ou onde estacionei. Não virei mais madrugadas (com raras exceções). Comecei a investir para o futuro (embora tenha um patrimônio sólido, sem liquidez) e fazer planos para 10 anos ou mais. Me atualizei, consegui outro emprego, sempre pensando em um futuro melhor. E para completar aos 42 nasceu minha segunda filha.

Eu ainda tenho os sintomas de um TDAH não diagnosticado e controlado. Mas nada que "importa" ficou para trás mais. Não gosto de pensar em decisões do passado, pois o meu presente é lindo e qualquer mudança talvez modificasse essa situação tão boa, mas me pergunto se não poderia ter economizado tempo e ajustado para o futuro mais cedo.

Mas hoje, com a experiência de ser instrutor profissional, eu estou mais tranquilo. Sei que não adianta falar... Não adianta tentar convencer um aluno, cujos pais ou não chegaram ou nunca chegarão à estas conclusões, a ser diferente. É difícil. Somos espelhos do que vivemos até que nosso cérebro mature o suficiente, e às vezes nem isso é suficiente.

Mas há esperança. Nas minhas meninas. Elas vão ver um pai dedicado à um futuro distante, que se apropriou de conhecimento para dar à elas as oportunidades que elas puderem aproveitar, sem sacrifícios demasiados. Elas vão ler, vão planejar, talvez do jeito delas, mas estarão expostas à essa cultura de fazer mais com o hoje para aproveitar o amanhã. Vão ver uma mãe dedicada que cuida delas com excelência e um amor envolvente que nos cerca bem antes delas terem nascido. Vão ter a compania uma da outra, e a nossa presença incondicional.

É como olhar um filme muito bem produzido. Em que os principais atores são os amores da minha vida.

2 de mar. de 2023

Uma nova jornada - Educação

 Comecei uma nova jornada em janeiro de 2023. Com a ajuda de um grande amigo, consegui realizar um dos meus sonhos: ensinar. Embora esteja patinando e aprendendo, e talvez me falte experiência e enfoque em pedagogia (eu sou extremamente técnico), estou tentando e evoluindo.

Há um grande déficit na educação em nosso país, mas esse fenômeno não é exclusividade brasileira. Há uma tragédia educacional ocorrendo em nível mundial. Uma geração que não entende tecnologia está oferecendo tecnologia para seus filhos, sem controle e sem limites. Estamos diante de uma população que usa tecnologia diariamente, mas não entende e/ou não quer entender nada de tecnologia. Matemática é o inimigo, e tecnologia é completamente inacessível por detrás das telas e toques. A ciência, tecnologia, engenharia e matemática são "muito difíceis", não estão no radar da maior parte dos jovens como oportunidade de carreira.

Enquanto a geração passada se profissionalizou em outros campos e conseguiu "viver a vida" sem esse conhecimento, compram para seus filhos os aparelhos que eles não entendem, expondo-os a uma rede gigante, pouco regulada e inóspita. Uma fonte ilimitada de dopamina, viciante, composta por entretenimento inútil e facilmente acessível.

Essa nova geração usa tecnologia e tem facilidade com ela, mas ao mesmo tempo, fadigados pelo consumo de reels e shorts, acabam com tempo de atenção reduzido, dificuldade de concentração, um péssimo sono e um desempenho escolar medíocre. Culpam os professores, a "sociedade", as matérias, o mundo, por acharem tudo muito "difícil", e não conseguirem acompanhar a jornada (mas continuam "avançando", sob o pretexto de gerar estatística positiva).

Uma geração maltratada pela dificuldade da hiperinflação, desemprego e trabalho duro gerou uma geração mimada. Pessoas que a vida toda escutaram ser "especiais" e "diferentes" do resto. Agora eles aguardam pacientemente, entre o mundo de faz de conta das redes sociais e streamings, que a sociedade os recompense, como seus pais sempre fizeram, por serem tão especiais. Enquanto isso, envelhecem e descobrem da pior maneira que não são.

Querem mudar o mundo do conforto de seu quarto climatizado, e querem ser reconhecidos e recompensados por esse magnânimo esforço.

A leitura em declínio, ou maltratada por gêneros de fácil consumo, o fast-food da leitura (quando consumido, é melhor que nada), a educação científica maltratada e destruída por um sistema que beira a insanidade ao crer que ninguém pode sentir-se ofendido ou derrotado.

Há exceções, famílias onde se ensinam valores e lições, e a grande tarefa do educador parece ter saído do escopo de mostrar conhecimento, para abordar um novo desafio: encontrar os desgarrados que reconhecem suas fraquezas e querem mudar isso. E deixar o "sistema" (esse malvado) filtrar o resto. Resta esperar que esse filtro englobe mais desafios.

Enquanto persigo esse sonho de ensinar, vou acumulando experiências e erros, e reflito sobre a minha própria educação. Os erros e acertos cometidos em décadas de ensino acumuladas. É uma experiência surreal e extremamente válida, ainda mais com uma pequena "esponja" de conhecimento se tornando cada vez mais questionadora e esperta dentro de casa. Minha filha terá lições do velho e do novo.

Autoconfiança não precisa se tornar narcisismo. Coragem não se compara a burrice. Matemática é a língua do universo e ciência é a ferramenta de descobrir tudo. Atenção não é recompensa e predadores não são admiradores.

É uma tarefa difícil, uma luta diária, uma experiência única e incomparável.

23 de nov. de 2022

TDAH - Hiperfoco - Exaustão e tratamento

 Muitos anos atrás eu fui diagnosticado com TDAH. Foi bem antes de ler "Tendência a Distração", livro de Edward M. Hallowell e John J. Ratey que fala sobre vários casos do transtorno em adultos e crianças (e me deu a certeza, após me identificar com vários relatos). Na época em que recebi o diagnóstico, foi de uma psicóloga recém formada, trabalhando de graça no mesmo lugar que eu. Não foi bem uma consulta. Recebi como recomendação na época tentar medicamentos ou continuar terapia. Meus pais já gastavam uma nota me mantendo em um curso superior em uma cidade de alto custo de vida, mesmo em uma Universidade Federal, e eu era "altamente funcional" então enterrei esse aspecto, para ser lembrado dele anos depois, já estável em um emprego, quando não consegui terminar o curso de graduação.

Mas foi um abalo mínimo, mais perda de tempo que qualquer coisa.

De lá para cá "manejar" a minha neuro atipicidade foi, podemos dizer, fácil, a chegada da minha filha me fez adquirir habilidades antes impossíveis de concentração. Parece que quando a aposta é alta, a resposta também é, e não tem aposta mais alta que a minha bebê. Até que entrei em uma espiral descendente com uma soma de fatores. Várias responsabilidades, falta de motivação, apatia e cansaço, muitas doenças seguidas e um sentimento de que a coisa não estava melhorando.

Com a ajuda da esposa (e da nossa filha, jóia da minha existência), atravessei essa tempestade e estou no caminho da recuperação, embora sinta que preciso de mais um pouco de tempo para perder esse cansaço que me abala, atrapalha meu serviço e atividades.

Para explicar: eu não tenho depressão. Depressão não passa pela minha cabeça. Tenho muita pena de quem sofre as consequências dessa doença terrível, mas nunca fiquei deprimido. O cérebro TDAH geralmente não fica deprimido. Eu amo a vida, amo atividades, gosto de várias coisas e tenho paixão pela minha esposa e filha. O que domina o TDAH é a apatia. É o cansaço. É ver nas obrigações uma tarefa intransponível, que certamente causará muito mais dor ao ser encarada do que ao ser ignorada. Uma ansiedade que atrapalha o sono e a concentração (já ferrada). Muitas obrigações. Aí vem o grande problema. Eu não consigo iniciar as tarefas. Depois que elas começam até a coisa anda, mas para começar, está complicado. Esse ano isso se mostrou inescapável, e teria perdido um ano inteiro de estudos, não fosse o apoio inigualável da minha esposa.

No trabalho, os colegas ajudam bastante. É a salvação.

Por outro lado, eu tenho hiperfoco. É um período de imensa concentração. Nesse tempo, o objeto da atividade tem atenção inescapável. É possível escrever por horas, dias. É fácil, até divertido. Os problemas são resolvidos, as questões se abrem e o mundo fica mais fácil de navegar. Até que passe. 

Por isso resolvi tentar tratamento. 20 anos depois do diagnóstico inicial. Vamos ver o que mudou no tratamento e manutenção da condição. Vamos tentar retomar a alta produtividade que me abandonou no início da pandemia e que teima em não voltar. Dizem que o primeiro passo é admitir o problema, mas eu não só admito como confesso, se necessário, e sempre foi assim.

Experimentei remédios alguns anos depois do diagnóstico. Modafinila e Ritalina. Era horrível, apesar da concentração aumentada, os efeitos eram sentidos do início ao fim, e eu me sentia outra pessoa. A sensação de ser outra pessoa é muito ruim (ainda mais de ser essa pessoa só quando sob efeito de um remédio), saber o momento exato que a droga age, até parar o efeito. Parece até a música do Ed Sheeran - Bloodstream. Tell me when it kicks in.

Mas vai saber, a indústria farmacêutica evoluiu muito. A área terapêutica também. O negócio é que percebi que sozinho a coisa não estava andando. Então vamos pedir ajuda profissional! Nova fase. Exercícios, dieta melhor, melhores costumes, muita água e sol... E terapia.